Caso você, leitor, será usuário cativo do sanatório em forma de mídia social que é o Twitter, deve saber que, dia sim, dia não, um nome entra entre os tópicos mais comentados do site: Mia Goth.
A atriz britânica, que é neta da também atriz brasileira Maria Gladys, se tornou um fenômeno viral por suas participações como protagonista nos filmes “X” e, principalmente, “Pearl”. Ambos dirigidos por Ti West, que tem várias produções de horror no currículo, incluindo um longa da franquia “V/H/S”.
“X” é uma delicia de filme. Melhor ainda para quem é fã de clássicos do gênero slasher. Na trama, a trupe de uma produtora pornô aluga parte de uma fazenda de um casal de idosos no interior do Texas para gravar um filme. Só que as coisas começam a desandar quando uma série de assassinatos é iniciada. É o tipo de longa que fica ainda melhor acompanhado de um balde de pipoca e de uma turma de amigos para rir junto.
O Ti West, que também assina o roteiro, consegue homenagear batidas clássicas do gênero (principalmente “Sexta-feira 13” e “Massacre da Serra Elétrica”) ao mesmo tempo em que confere uma profundidade um pouco maior aos personagens.
Owen Campbell vive um diretor que tenta trazer uma imagem mais “artística” aos filmes pornôs. Sua namorada e assistente de produção, interpretada pela Jenna Ortega (a Wandinha!), aproveita a ocasião para deixar alguns pensamentos mais pudicos de lado. A dupla feita por Brittany Snow e Kid Cudi ajuda nessa transição, servindo como um “outro lado” contra a caretice.
Já Martin Henderson entrega um produtor que caminha entre não glamourizar demais a profissão e ainda se agarrar à juventude ao lado de sua namorada, Maxxine. Essa, é feita pela Mia Goth, que serve uma final girl aérea e distante, com certa ingenuidade intocável - mesmo sendo uma atriz pornô!
Ao terminarem as gravações de “X” na Nova Zelândia, durante a alta da pandemia com a COVID-19, Ti West e Mia Goth conversaram sobre quais seriam as motivações mais aprofundadas de Pearl, uma das idosas, dona da fazenda onde se passa o filme. Desse bate-papo, a dupla iniciou o roteiro de “Pearl” (assinado pelo diretor e pela atriz), com uma história que se passaria em 1918, auge da pandemia de influenza, que mostraria um recorte da vida da personagem.
Aqui, Pearl, filha de imigrantes alemães, vê seu marido ir por vontade própria lutar na primeira guerra mundial, enquanto ela é obrigada a aturar a tirania de sua mãe e a cuidar de seu pai, paralisado em uma cadeira de rodas por complicações da influenza.
Num ambiente opressor, a garota mergulha da psicopatia quando todas as suas tentativas de fugir da realidade são minadas. Poderia ser algo caricato, mas Mia evolui a vilã aos poucos, e só entrega o ouro no terceiro ato, onde já não há mais motivos para esconder o monstro dentro da jaula.
“Pearl” é um outro bicho. Enquanto “X” utilizava muito das batidas de filmes slasher dos anos 1970 e 1980, a prequel tem uma abordagem distante dessa. A fotografia saturada deixa os cenários e ambientes ao redor num tom mais fantasioso. E o roteiro recheia a duração de cenas “slow burn” esquisitíssimas, o que cria um ambiente de tensão no espectador (há uma de “sexo” com um espantalho que é perturbadora).
Num mundo ideal, sem o preconceito que o terror sofre por votantes, a Mia Goth teria sido indicada às principais premiações da temporada. Mas as engrenagens hollywoodianas são esquisitas, de modo que o normal é a Florence Pugh conquistar uma indicação ao Oscar por “Adoráveis Mulheres” no mesmo ano em que estrelou “Midsommar”, ou a Toni Collette sequer ser lembrada por protagonizar “Hereditário”. Cinema de gênero é separado numa outra prateleira até mesmo por quem trabalha nesse meio. Vai entender.
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Bah, vou te dizer que acabei não curtindo tanto assim X. Achei que as referências aos clássicos filmes slasher foram ótimas, mas acabei não me conectando tanto com a história. Agora em Pearl, UAU! Mia Goth está simplesmente maravilhosa, ela entrega uma malícia e ao mesmo tempo uma ingenuidade que chega a ser perturbador de assistir. A todo momento eu pensava: "É AGORA"! E quando esse momento finalmente veio, foi de tirar o folego. A construção da personagem foi muito bem feita aqui, ao ponto de eu me questionar o que eu faria de tivesse o mesmo sonho que ela e vivesse no mesmo ambiente, no mesmo contexto. Estou com boas expectativas para o terceiro filme "Maxxine", quero ver até onde a Mia chega com esse talento absurdo dela.