Huh… olá?!
Me chamo Igor. Sou jornalista e trabalho escrevendo sobre animes, mangás e música pop asiática há quase uma década. Ligeiramente odiado na fanbase por ter falado mal dum desenho aclamado aí, “Demon Slayer”, e por alguns dos meus pares por ter defendido que uma outra bomba, “The Rising of the Shield Hero”, não deveria sofrer censura. Prazer…?
Na época de faculdade, eu tinha esse blog em uma outra plataforma, que acho que faliu, onde eu, até então, um estudante animado e com muita vontade de compartilhar coisas, escrevia descontraidamente (e de graça, então eu falava que era um “zine”) sobre muitas dessas coisas que eu queria compartilhar. Cinema e música, principalmente.
Hoje, uns muitos anos depois, resolvi resgatar essa vontade de escrever (sem receber, tal como em zines). Mas blogs já não estão mais em alta. Agora a galera prefere newsletters. E essa aqui permite deixar os textos antigos arquivados em formato de blog, para que aqueles que não assinaram antes possam acessá-los fora do e-mail.
“É o futuro encontrando o clássico”, como diriam em alguma reportagem mostrando a arquitetura japonesa do xogunato Tokugawa ao lado de letreiros de neon ou algo assim.
Mas qual o melhor jeito de começar isso? Bom, acho que a maneira mais apropriada de me apresentar é falando do que mais gosto dentro do que mais gosto. E aí lembrei que a Variety, na rabeira do ano passado, soltou um listão com os 100 melhores filmes de todos os tempos segundo sua redação. E tal como Tarantino olhando para o cinema asiático, pensei: “hum, vou copiar!”
Só que numa versão reduzida, claro. Só com os meus dez prediletos da vida… + um que, por motivos, é o “mais importante”. Listas de melhores quaisquer trecos sempre são subjetivas e sempre são motivos de polêmica. Mas para muito além disso, sempre são recheadas de boas recomendações e funcionam como um ótimo cartão de visitas para conhecer alguém.
Aqui vai o meu, com umas velharias, gente esquisita transgredindo regras e… Shrek! Ah, e a lista não está em ordem de preferência, mas sim em ordem de lançamento.
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
(Some Like It Hot, Billy Wilder, 1959)
Há mais de seis décadas, já tinha gente com uma cabeça bem mais pra frente do que a de uma galera da nossa geração. Nesse clássico sempre revisitável do finzinho da era de ouro do cinema americano, Jack Lemmon e Billy Wilder encarnam amigos que entram em drag para fugir da máfia em uma banda feminina. O que não estava nos planos era um deles cair de amores pela cantora do grupo, Sugar Kane (Marilyn Monroe, e quem não cairia?), e o outro flechar o coração de um milionário desavisado. A cena final, com o “ninguém é perfeito”, é um dos desfechos mais transgressores do cinema dessa época.
À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA
(José Mojica Marins, 1964)
E falando em transgressão. Eu sequer consigo imaginar qual a reação da plateia da década de 60 ao assistir a isso aqui. O nascimento do Zé do Caixão veio antes do Cinema Novo ou do Cinema Marginal da Boca do Lixo. E foi deliciosamente agressivo: ele assassina seu melhor amigo para estuprar sua mulher, arranca os dedos de um sujeito, ataca outro com uma coroa de espinhos retirada de uma imagem de Jesus, blasfema ao comer carne na Sexta-Feira Santa na frente de uma procissão, e ainda desafia o próprio Deus. “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” é uma pérola que bebe do visual expressionista alemão, mas com um pé no brejeiro apaixonante, que só alguém que ama muito cinema poderia ter feito.
BIG WEDNESDAY
(John Milius, 1978)
O cinema é cheio de filmes sobre coming of age ceremonies, mas nenhum deve ser legal quanto esse aqui. Nesse drama tão agridoce quanto ensolarado, acompanhamos um grupo de amigos surfistas que tentam fugir do alistamento na Guerra do Vietnã. No fundo, é uma história sobre querer, a qualquer custo, manter a jovialidade em vez de cair na armadilha que é a seriedade da vida adulta. Um “lado B” imperdível da Nova Hollywood.
MAD MAX
(George Miller, 1979)
O cinema americano entre o fim dos anos 60 e os 70 utilizou muito de veículos e estradas como alegorias para uma vida sem limites em tempos onde as pessoas não sabiam o que haveria no futuro. Em paralelo, também na década de 70, uma nova onda de cineastas australianos contava histórias que contrapunham uma sociedade “civilizada” em combate com uma natureza “selvagem”. “Mad Max”, o primeirão, sempre me foi um híbrido perfeito dessas duas escolas. Além de ser um dos precursores da estética cool que explorariam num sem número de filmes da década seguinte. Ainda é o melhor (e, curiosamente, o mais sexy) entre todos os da franquia.
ALL THAT JAZZ
(Bob Fosse, 1979)
“All That Jazz” deve ser o musical ideal para qualquer um que acha ser bad guy demais para musicais. Pois o Bob Fosse é um monstro de tão talentoso. Ele monta sequências e mais sequências assombrosas de tão bem dirigidas, onde melodia, letra, coreografia, movimento de câmera e cortes são o suficiente para derreter cérebros. Já na abertura, sem diálogos, só música e montagem, incluindo o momento em que a câmera revela aos poucos a grandiosidade do palco, percebemos o quanto tudo será espetacular. E o filme traz ainda aquela que, provavelmente, é a minha cena preferida da vida: quando o corpo de bailarinos apresenta, pela primeira vez, a coreografia que estavam ensaiando. É tão impressionante e enlouqueceu tanta gente que a Paula Abdul tentou recriá-la no videoclipe de Cold Hearted.
O ENIGMA DE OUTRO MUNDO
(The Thing, John Carpenter, 1982)
Difícil escolher o melhor do Carpenter. É tipo decidir qual o melhor do Allen, ou do Hitchcock, ou do Spielberg. Nos últimos anos, é “O Enigma do Outro Mundo”. Talvez por as alegorias traçadas nele fazerem muito sentido com a pandemia que passamos? Pode ser. Quando um alienígena parasita, com a habilidade de assumir a forma alheia, ataca uma base americana de pesquisas na Antártida, um grupo de cientistas se vê perdido em paranoia contra um inimigo que, literalmente, pode ser qualquer um.
PROJETO CHINA
(A計劃, Jackie Chan, 1983)
A lista está em ordem de lançamento, mas se estivesse em ordem de preferência, esse aqui ficaria no topo. “Projeto China” é o ponto máximo não só da filmografia do Jackie Chan como ator e diretor, mas também o maior desse intervalo entre o fim da década de 60 e o começo da de 90, onde o cinemão de ação e artes marciais em Hong Kong viveu sua era de ouro. Há algo sobre os atores realmente realizarem as cenas e os stunts em vez de dublês que deixa tudo mais emergencial. A cena da briga de bar é uma das mais impressionantes já feitas. Na trama, que se passa em 1900, um grupo de marinheiros precisa superar sua rivalidade e trabalhar junto com a polícia para enfrentar uma gangue de piratas. A sétima arte ainda não ficou maior desde então.
O CASTELO NO CÉU
(天空の城ラピュタ, Hayao Miyazaki, 1986)
O hiperdetalhismo sempre foi uma marca registrada nas animações do Ghibli. Em “O Castelo no Céu”, temos o que deve ser o melhor exemplo disso em tela. Cada frame é carregado de maneira arrepiante, como se estivéssemos assistindo a uma pintura em formato de filme. O engate da história é uma menina que caiu do céu e agora é protegida por um menino, que promete levá-la de volta para o castelo flutuante onde ela morava. Acrescente piratas aéreos, perseguições que aproveitam tudo o que podem da falta de amarras em um desenho animado, e uma trama de controle familiar redondinha que se torna magnífica, tamanho é o cuidado a cada traço desenhado, é pronto: é a fantasia infantil perfeita!
AKIRA
(アキラ, Katsuhiro Otomo, 1988)
Essa obra-prima pode (e deve!) ser lida como muitas coisas: um divisor de águas dentro da indústria da animação nipônica no que diz respeito à sua expansão internacional; um dos pilares da ficção-científica cyberpunk “high tech / low life” na cultura pop contemporânea; um pico de êxtase no cinema de animação como “forma” de confecção; um dos melhores filmes a capturarem os problemas atemporais da adolescência em todos os tempos; uma gema antifascista; e a lista segue. Na cidade de NeoTóquio, Kaneda, Tetsuo e sua gangue de motocicletas cruzam caminho de crianças paranormais. O contato desencadeia uma série de acontecimentos que podem levar ao ressurgimento de Akira, um ser incontrolável com a capacidade de destruir o mundo. Tão pungente quanto atual, “Akira” é como um espelho do que de pior pode haver na realidade.
BATMAN: O RETORNO
(Batman Returns, Tim Burton, 1992)
Com o sucesso da Marvel Studios, filmes com super-heróis se tornaram o motor do cinema na última década. Porém, é interessante observar como quase nada sequer arranha o quão incrível é a mão do Tim Burton em seus “Batmans”. O primeiro é fantástico, mas o segundo é imbatível. O Homem-Morcego, aqui, é convertido numa figura isolada e de perturbação semelhante à do vilão, Pinguim. Ao mesmo tempo em que trava uma relação de desejo e poder com uma Mulher-Gato estonteante e fatal. Isso ocorrendo numa Gotham ainda mais teatral e soturna, que ganha ares trágicos por se passar numa melancolia natalina. O resultado foi um filme que assustou crianças, mas encantou a todos que conseguiram embarcar em tal jornada. E pelo amor de Deus, Michelle Pfeiffer...
SHREK 2
(Andrew Adamson, Kelly Asbury e Conrad Vernon, 2004)
Era para ser uma lista só com os 10 melhores, mas não consigo deixar “Shrek 2” de fora e nem junto com os demais, pois essa segunda aventura do ogro habita um outro patamar em minha cabeça. Foi o primeiro filme que assisti em uma sala de cinema, o que mudou minha infância. Ele se tornou algo a mais. É a história perfeita em forma de deboche aos contos de fadas. Shrek e Fiona têm sua lua de mel interrompida quando os pais da noiva, reis de Tão Tão Distante, desejam conhecer o genro. Daí em diante, tudo se desenrola numa comédia romântica aventuresca, recheada de momentos icônicos (o Burro perguntando “a gente já chegou?”, a cena do jantar, o olhar do Gato de Botas, a Fada Madrinha cantando no baile, eu poderia ficar até amanhã citando) e de coração, muito coração. Uma obra prima sobre encontrar a beleza mesmo onde os outros, ao redor, dizem não existir.
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Eu sempre acho maravilhoso descobrir os gostos pessoais dos outros, principalmente em áreas que eu gosto (mesmo não sendo um grande conhecedor delas) como música e o próprio cinema. Dos filmes da lista só assisti Akira e Shrek 2, mas conhecia alguns outros que estão nela. O bom de não ter visto é que servem de recomendações hihi.
Gostei de conhecer alguns gostos peculiares de filmes. O bom disso é que fica como dica para os outros assistirem também.